agosto 18, 2014

Texto sobre o texto que eu não consigo escrever. (desculpa por não ser tão forte assim)


Escrever sobre o passado é uma maneira de aceitar que ele existiu, encarar e deixar com que as coisas sigam sem mágoas, na teoria parece legal, mas na prática é como reorganizar as gavetas e trocar sem querer as roupas de lugar, colocando pra cima coisas que você não usa faz tempo e pra baixo as que você tá acostumada a usar, não que aquelas roupas sejam necessariamente horríveis (as vezes são) mas você simplesmente esqueceu delas e tem coisas que te caem melhor, que você prefere no momento. 

Falam que os melhores textos são sobre assuntos que assustam ou incomodam, por dentro, seus autores, seus próprios fantasmas. Eu ando discordando disso, escrever sobre suas próprias feridas, pra mim, é um ato de auto mutilação, você se sente mal por tudo que aconteceu novamente, e como se isso não fosse o suficiente procura novas visões do que aconteceu se machucando de novas formas, na maioria das vezes. 

Quando você escolhe trazer essas memórias à tona você não pode simplesmente trazer coisas do passado, escrever sobre elas, e depois ordenar para seu cérebro "pronto agora volta pro esquecimento" então você começa a acordar, almoçar, pegar ônibus....ir dormir tudo com essas lembranças, pelo menos quando é algo que te machuca, parece que isso toma conta de toda sua vida, todo seu dia, quer dizer, de tudo menos daquela folha de papel onde ela deveria aparecer... Você pensa o dia inteiro como exteriorizar todos os sentimentos e todas as consequências daquilo, e quando vai escrever não sai nada.

Ai começa o ciclo de culpas e desculpas, você culpa as pessoas que vão ler e julgar, você desencontra a necessidade de escrever, você tem medo, raiva, vergonha, cansaço e acha que tudo isso te impede é bloqueio mental. É como se pudesse existir um egoísmo de angustia; "ela minha e vocês nunca vão entender". E você sabe entendem, apoiam respeitam e mesmo assim não sai nada, não adianta. 

Certas angústias são como aquela blusa que você põe na pilha de doação mil vezes e tira. 
Mas quem sabe esse ano, apesar de faltar pouco pra acabar eu me livro dela.

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